Feb 28 2025 9 mins 1
A cerimônia de entrega do prêmio César de cinema, considerado o Oscar francês, acontece nesta sexta-feira (28) em Paris. O filme brasileiro "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles, tem coprodução francesa, mas ficou fora das indicações. O favorito ao prêmio de melhor filme é "Emilia Pérez", do diretor Jacques Audiard.
O longa estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello não foi nomeado em nenhuma categoria do César por ter estreado nos cinemas franceses apenas neste ano. A seleção oficial se baseia nos filmes que chegaram às salas francesas em 2024. "Ainda Estou Aqui" teve pré-estreias em dezembro, mas só chegou aos cinemas em 15 de janeiro. Pode ser que o longa brasileiro seja selecionado em 2026.
Disputam o César de melhor filme estrangeiro os longas americanos "Anora", "O Aprendiz", "A Substância", com Demi Moore, dirigido pela francesa Coralie Fargeat, o iraniano "A Semente do Fruto Sagrado" e o britânico "Zona de Interesse".
Mesmo sem o elenco de "Ainda Estou Aqui", a cerimônia do César na sala Olympia de Paris deve ter momentos emocionantes. A premiação completa 50 anos e será presidida por Catherine Deneuve. Haverá uma homenagem a Alain Delon, que morreu em agosto passado. Além isso, a atriz americana Julia Roberts e o diretor Costa-Gavras, de 92 anos, receberão prêmios honorários.
A 50ª edição do César é marcada pela vitalidade do cinema francês, com grandes sucessos de bilheteria. "O Conde de Monte Cristo", adaptado do romance de Alexandre Dumas, recebeu 14 indicações, inclusive de melhor filme. Esse longa, estrelado pelo ator Pierre Niney, vendeu 9,4 milhões de ingressos na França.
"L'Amour Ouf", uma história de amor quase impossível ainda sem título em português, foi visto por 4,9 milhões de espectadores e disputa 13 estatuetas. "Emilia Pérez", rival de "Ainda Estou Aqui" no Oscar, vem logo atrás com 12 indicações.
A crítica que se faz à Academia de Artes e Técnicas do Cinema foi que o filme de maior sucesso de público em 2024, a comédia "Algo a mais" (Un p'tit truc en plus, em francês), do diretor Artus, que trabalha pelo reconhecimento de atores com deficiência, teve quase 11 milhões de ingressos vendidos e só concorre ao César de melhor primeiro filme, o que está sendo considerado uma injustiça pelo público.
Sistema de votação
Esta edição de 50 anos do César teve 4.951 votantes, distribuídos em dez colégios eleitorais formados por 80% de atores, realizadores, roteiristas, técnicos, produtores, diretores de casting e representantes de indústrias técnicas, e 20% de distribuidores, vendedores internacionais, donos de cinemas, técnicos industriais, assessores de imprensa, agentes artísticos e membros associados da Academia francesa.
A votação acontece em dois turnos, sempre por voto secreto. A primeira fase determina os filmes em competição e um segundo turno designa os vencedores.
Mudanças no regulamento
A Academia francesa decidiu implementar em 2025 uma política de tolerância zero para violência sexual e física, depois de sucessivos escândalos envolvendo atores, diretores e outros profissionais da indústria em casos de estupro, assédio, discriminações sexistas e chantagem.
Em janeiro, a Academia publicou um comunicado para informar as alterações que fez em seu regulamento, para restringir os direitos de voto de qualquer membro que enfrente acusações judiciais desse tipo. Os membros condenados foram e permanecerão excluídos da Academia até o cumprimento integral da pena, no caso de condenação transitada em julgado. Em 2023, a Academia já tinha tomado algumas providências sobre esse tema.
No ano passado, o discurso ovacionado da atriz Judith Godrèche, que acusou dois cineastas, Benoît Jacquot e Jacques Doillon, de estupro quando ela era menor de idade, marcaram uma reviravolta no cinema francês.
No início do mês, a Justiça francesa condenou a quatro anos de prisão o diretor Christophe Ruggia, que assediou a atriz Adèle Haenel, quando ela tinha 12 anos, um caso emblemático do movimento "MeToo" no país. Lentamente, os abusos estão sendo punidos na Justiça.
Catherine Deneuve critica Academia francesa
A atriz Catherine Deneuve disse em uma entrevista há dez dias que só aceitou o convite para ser presidente da cerimônia por ser o aniversário de 50 anos do César. Ela boicota o prêmio francês há pelo menos 15 anos.
Com mais de 130 filmes na carreira, a atriz, de 81 anos, falou que o sistema de votação do César "não é sério". Segundo ela, muita gente não vota no primeiro turno, que seleciona os filmes indicados, e vota só na segunda etapa de designação dos vencedores, o que na opinião de Deneuve distorce os resultados. Por isso, muitos atores e atrizes perderam o interesse pelo César, diz ela.
Deneuve conquistou dois César de melhor atriz (1981 e 1993). Ela presidiu a cerimônia pela primeira vez em 1983, além de ser a segunda atriz francesa com o maior número de indicações, 14 no total, só perdendo para Isabelle Ruppert, que foi indicada 16 vezes ao longo da carreira.
O recordista de nomeações ao César é o diretor Jacques Audiard, de "Emília Pérez": 26 no total. Ele já recebeu a estatueta dez vezes e pode se tornar o vencedor mais condecorado da história do prêmio nesta noite.
A cerimônia começa às 20h45 no horário de Paris, 16h45 em Brasília.