“Brasil! Brasil!, O nascimento do modernismo”, assim mesmo: duas vezes, escrito com S e exclamação é um grito pela riqueza da arte moderna brasileira literalmente para inglês ver.
Yula Rocha, correspondente da RFI em Londres
A exposição reúne 130 obras de dez artistas brasileiros da velha guarda do modernismo como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Cândido Portinari à Djanira, Volpi, Geraldo de Barros na prestigiada Academia Real de Artes de Londres (Royal Academy of Arts).
O modernismo brasileiro, que buscou sua identidade ao se descolar do colonialismo europeu entre os anos de 1910 e 1970, ocupa todo o primeiro andar do enorme prédio fundado pelo Rei George III no fim do século 18. Uma das curadoras da mostra, Roberta Saraiva Coutinho, que é diretora técnica do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, conversou com a RFI durante o evento aberto à visitação da imprensa e ressaltou a relevância do conjunto das obras expostas diante do contexto político em que o mundo se encontra.
“A arte brasileira, o modernismo brasileiro em 2025, neste contexto que a gente está vivendo no mundo é uma coisa extraordinária. É muito comovente entrar nessa exposição e ver esse conjunto de obras emblemáticas do modernismo brasileiro que são as obras das coleções mais importantes do Brasil.” Roberta Saraiva Coutinho
A curadoria da exposição teve o cuidado de manter algumas palavras em português na descrição das obras como, por exemplo, bandeirinhas das festas de São João no Nordeste. "Cada língua tem uma espécie de visão de mundo", explica Roberta.
“A exposição quer trazer essa visão de mundo do Brasil para Londres, esse mundo que é um mundo globalizado, compreendendo também o modernismo como um fenômeno global. Esse é um momento oportuno para se pensar tudo isso”, afirma.
A exposição é uma grande vitrine para o Brasil, mas não contou com apoio financeiro do governo. O modernismo chamou a atenção do Centro Paul Klee, que investiu em trazer as obras para Europa no ano passado. Primeiro para Berna, na Suíça, e agora para Londres em parceria com a Academia Real, que reuniu ainda outras sete obras de coleções privadas com quadros de Burle Marx adquiridos na última grande exposição de arte brasileira em 1944 na capital britânica, essa, sim, com apoio do nosso governo à época.
“Acho importante dizer que para uma exposição deste porte toda feita por instituições de peso do exterior, sem financiamento público brasileiro, nos coloca num outro nível, isso nos coloca num outro lugar”, acredita Roberta.
Os temas explorados por essa gama de artistas brasileiros há sessenta, oitenta anos, como o sincretismo religioso com o quadro dos Orixás de Djanira, a migração, trabalhadores do campo, festas regionais e representação indígena estão mais do que nunca na pauta do dia.
“A gente enxerga o mundo contemporâneo nesta exposição com obras de artistas como Djanira cuja voz foi tão pouco vista ao longo dos anos e agora retoma o seu lugar dentro da arte brasileira”, afirma Roberta.
A exposição“Brasil! Brasil!, O nascimento do modernismo” abre ao público no dia 28 de janeiro e vai até o dia 21 de abril.