Yoga: a "arma secreta" cada vez mais usada por atletas de alto rendimento


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Feb 09 2025 8 mins   2

Em sua passagem recente pela França, onde disputou a Copa Davis pelo Brasil, o tenista João Fonseca revelou uma de suas armas para o bom desempenho nas quadras. O carioca que vem sendo considerado um dos nomes mais promissores do tênis internacional na atualidade é praticante de yoga, e relata os benefícios antes das partidas. A RFI Brasil entrevistou profissionais da área e esportistas e revela como essa prática milenar tem se mostrado uma ferramenta eficaz no mundo dos esportes.

Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris

A rotina de exercícios, respirações e meditação complementa os treinos, com bons resultados dentro e fora das competições.

O yoga é uma filosofia de vida milenar surgida na Índia há cerca de 5 mil anos e sua prática está relacionada à saúde, bem-estar e melhoria na qualidade de vida. A cada ano, cresce também o número de atletas e times que o utilizam para aperfeiçoar seu desempenho, em especial, para aumento da concentração, autoconfiança e capacidade de realização de objetivos.

"Desde que eu era pequeno, o meu pai fazia yoga com o mestre Orlando Cani, que trabalhou com Rickson Gracie do jiujitsu", conta João Fonseca, que decidiu incluir o yoga em seus treinamentos. "Eu conheci ele desde novo, mas nunca fui tão interessado", diz. "Quando fui crescendo mais no tênis, eu fui praticando nos jogos mais difíceis, em que eu sentia mais pressão. Fui criando rotina de meditação e respirações. Atualmente, antes de todos os jogos, eu procuro fazer respirações para me manter mais calmo", afirma.

Jogadora da Seleção Brasileira de rugby, Aline Furtado também é adepta do yoga. Aos 29 anos, a atleta olímpica conta "os efeitos terapêuticos" que diz sentir com a prática. "Eu comecei no yoga através da meditação. Assim que eu entrei no alto rendimento do rugby, foi um momento meio conturbado, muita ansiedade pré-jogo e eu usava a meditação como uma forma de me tranquilizar, tirar o nervosismo, voltar para o momento presente, tirar os pensamentos do futuro. Aos poucos, eu fui indo para as posturas, junto com a respiração, e foi muito importante", revela.

"Hoje eu tento praticar yoga nos finais de semana. Isso me ajuda a fazer mobilidade ativa, pois o rugby deixa o corpo muito tensionado e rígido", diz. "Isso me ajuda a ter atenção plena no que estou vivendo", conclui.

Benefícios comprovados

Disciplina milenar, até então praticada por pessoas consideradas “zen”, o yoga agora é reconhecido pela ciência. Os pranayamas – a respiração – e os asanas – as posturas – que fazem parte da raiz do yoga foram incorporados a inúmeras vertentes da prática.

A primeira pesquisa que comprovou os benefícios do yoga para a saúde como um todo foi publicada em 1924. Na época, os indianos queriam provar aos ingleses a eficácia dessa ciência milenar. Atualmente, mais de quatro mil estudos científicos evidenciam os benefícios da prática.

Instrutora de yoga há mais de 20 anos, Letícia Portella explica que "a prática proporciona o desenvolvimento físico, emocional e mental do atleta". Ela desenvolveu um método usando técnicas que beneficiam esportistas para terem um maior rendimento em competições, citando como benefícios "o alongamento, tônus muscular, concentração, capacidade pulmonar, resistência corporal e qualidade de vida de modo geral".

No caso específico de esportistas de alto rendimento, o yoga "reduz a ocorrência de câimbras e lesões, melhora a consciência corporal, auxilia nos reflexos e na tolerância à dor, melhora a capacidade cardiorrespiratória e o fôlego, além do ganho de elasticidade e mais flexibilidade nos movimentos", garante a professora. "E isso não é só para o corpo, mas também para a mente", completa.

De olho nessa tendência, Portella implementou um projeto de yoga voltado para cavaleiros na Sociedade Hípica Brasileira, no Rio de Janeiro, onde morou antes de se mudar para a Holanda, país em que continua atuando na área. Entre alguns nomes que conheceram o yoga através de suas aulas estão os cavaleiros Fábio Leivas, Doda Miranda, Marlon Zonatelli e Luiz Felipe Azevedo, que fez uma consultoria com Letícia em seu haras, na Bélgica, para conquistar autonomia na prática.

No caso específico do hipismo, ela explica que "quando o atleta está nervoso, estressado, ele passa tudo isso para o cavalo", que também terá a sua performance afetada. "Eu tenho muitos atletas de hipismo que fizeram aula comigo e contam como que eles usam as técnicas de respiração, de meditação. Quando você sente que está com a respiração agitada, tem uma respiração que você faz na hora que já desacelera, já reduz o seu ritmo cardíaco", ensina. "Os atletas que fazem yoga não divulgam muito. Isso é um trunfo, é um diferencial, porque eu percebo que é um segredinho deles", brinca a professora, com certificado em "gerenciamento da felicidade" pela Harvard Business School.

O surfista de ondas grandes Eraldo Gueiros treinou com a professora em duas pré-temporadas para competições no Havaí, em 2005 e 2006.

As atletas do remo do Brasil Fabiana Beltrame, Kissya Cataldo e Luana Bartholo também se beneficiaram do método de yoga oferecido por ela como complemento de treinamento antes dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.

Outros esportistas que praticaram com Letícia foram o lutador Rodrigo Minotauro e o jogador de futebol Rodrigo Juliano. Também conhecido como Rodrigo Beckham por sua semelhança ao ídolo do futebol inglês, o ex-atleta, que já atuou em clubes como Botafogo, Vasco da Gama, Santos e Corinthians, contou à RFI que começou a praticar yoga para se recuperar após uma cirurgia no joelho.

"Os esportes fazem com que você tenha um caminho muito solitário, onde você precisa aprender a ter disciplina, competir contra você mesmo, desenvolver uma gestão emocional, e um dos maiores fantasmas dos esportes são as lesões que a gente enfrenta", diz. "E como desde cedo eu enfrentei algumas lesões, aos poucos eu vim tendo a oportunidade de conhecer ferramentas que nos davam oportunidade de ter uma concentração maior, um foco maior, e foi aí que o yoga entrou na minha vida", revela.

Após os resultados positivos, em 2008 ele levou o método para seus companheiros de time, na época o Boa Vista, do Rio de Janeiro. "A gente fez um trabalho para conectar cada jogador com ele mesmo e com o grupo, de forma coletiva. E apesar de ser uma ferramenta nova, que então não era muito usada no Brasil, funcionou muito bem e a gente conseguiu resultados excepcionais", conta. "Na alta performance, o yoga consegue fazer com que você una as suas faculdades dentro do esporte para ter um melhor desempenho, pois você começa a ver as coisas com mais clareza, além de ter mais concentração para tomar decisões", observa.

Atualmente, Rodrigo Juliano mantém o yoga em sua rotina. "É um benefício invisível. Eu procuro praticar de manhã para começar o dia em paz, com exercícios para conectar a parte muscular com a respiração, para sair de um estado perturbado para um estado consciente", conclui.

Seja qual for a modalidade de yoga, as experiências relatadas mostram que a prática nascida no Oriente tem sido uma aliada para a saúde global e bom desempenho de atletas em todo o mundo.