Putin sinaliza abertura à Europa após encontro de Macron com Trump


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Feb 25 2025 11 mins   5

Em uma entrevista na televisão na noite da segunda-feira (24), o presidente russo, Vladimir Putin, indicou que a Europa poderia desempenhar um papel importante nas negociações de paz, afirmando que "os europeus, mas também outros países, têm o direito e a oportunidade de participar". Putin também considerou "uma boa ideia" a proposta de Donald Trump para que Rússia, EUA e China reduzam os seus gastos militares pela metade, mostrando-se aberto a discussões sobre o tema.

Luciana Rosa correspondente da RFI em Nova York

Além disso, o líder russo expressou interesse em investimentos americanos na exploração de minerais estratégicos em territórios ucranianos sob ocupação russa, destacando que empresas russas e americanas já estão "em contato" para possíveis parcerias econômicas dentro do contexto da resolução do conflito.

Em visita à Washington na segunda-feira (24), o presidente francês Emmanuel Macron defendeu a necessidade de retomar o diálogo com Putin, afirmando que "ser forte e ter capacidades de dissuasão é a única maneira de garantir que um acordo seja respeitado". O presidente francês ressaltou que os EUA possuem um papel essencial nessa mediação e que o objetivo deve ser estabelecer garantias de segurança verificáveis a curto prazo, com apoio internacional para assegurar a credibilidade do processo.

Já o presidente norte-americano, Donald Trump celebrou o que chamou de "discussões robustas" com Putin sobre o fim da guerra, embora o Kremlin tenha negado que tenha havido negociações detalhadas entre os dois líderes ou suas equipes diplomáticas.

Trump sugeriu que Putin poderia aceitar forças de paz europeias na Ucrânia como parte de um acordo e mencionou um possível encontro com Volodymyr Zelensky para discutir termos que incluiriam concessões econômicas à Ucrânia em troca da ajuda americana. O presidente russo, no entanto, intensificou suas críticas ao líder ucraniano, chamando-o de "figura tóxica" e ecoando declarações anteriores de Trump, que o acusou de ser um "ditador não eleito".

Trump e Macron buscam denominador comum sobre conflito na Ucrânia

Donald Trump afirmou nesta segunda-feira que o aguardado acordo de paz entre Rússia e Ucrânia está "muito próximo" e sugeriu que deve se reunir com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, ainda esta semana ou na próxima para formalizar o acerto sobre a exploração de minerais estratégicos. "Ele pode vir nesta semana ou na próxima para assinar o acordo, o que seria ótimo", declarou Trump. O presidente americano também afirmou que pretende se encontrar com o presidente russo, Vladimir Putin, em breve.

Por outro lado, Macron ressaltou que a Europa está disposta a oferecer garantias de segurança à Ucrânia, incluindo o envio de tropas de paz, caso um cessar-fogo seja estabelecido.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de a Ucrânia ceder território à Rússia como parte de um acordo de paz, Trump evitou dar uma resposta direta. "Vamos ver", disse, reforçando que as negociações ainda estão no início.

Durante uma coletiva de imprensa realizada após o encontro na Casa Branca, Macron destacou os avanços nas negociações e reafirmou o seu compromisso com um comércio justo entre os Estados Unidos e a Europa. Ele mencionou que conversou com Trump para evitar uma guerra comercial e garantir investimentos equilibrados entre os dois lados do Atlântico. O presidente francês também enfatizou que a Europa está disposta a dividir de forma mais justa os encargos com segurança, alinhando-se à demanda de Trump para que os países do Tratado do Atlântico Norte (Otan) aumentem seus gastos com defesa.

Macron também abordou a questão da guerra na Ucrânia, ressaltando que qualquer acordo de cessar-fogo deve incluir garantias concretas de segurança e reconstrução, sem significar a rendição de Kiev. Ele afirmou que, apesar de ter interrompido o diálogo com Vladimir Putin após os crimes de guerra cometidos em Bucha, vê uma oportunidade para reabrir as conversas sob novas condições. O presidente francês reiterou que a paz só será viável com compromissos verificáveis da Rússia e que a comunidade internacional deve garantir que a lei internacional prevaleça sobre a força.

Dia de revés para Ucrânia e Trump nas Nações Unidas

No terceiro aniversário da invasão russa à Ucrânia, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução proposta pelos Estados Unidos pedindo o fim da guerra, mas sem mencionar a agressão russa. A medida recebeu 10 votos a favor, enquanto cinco países, incluindo Reino Unido e França, se abstiveram. Paralelamente, a Assembleia Geral da ONU aprovou, também nesta segunda-feira, uma resolução redigida pela Ucrânia e apoiada pela União Europeia, condenando a Rússia e exigindo a retirada imediata de suas tropas do território ucraniano.

A votação na Assembleia Geral revelou um apoio menor à Ucrânia em comparação com anos anteriores. A resolução foi aprovada por 93 votos a 18, com 65 abstenções, um número inferior ao das votações anteriores, quando mais de 140 países condenaram a agressão russa. O governo Trump se opôs à medida ucraniana e tentou emplacar a resolução alternativa dos EUA, que evitava citar Moscou, mas não conseguiu apoio suficiente.

Os Estados Unidos pressionaram Kiev a retirar sua proposta e apoiar o texto americano. A embaixadora dos EUA na ONU, Dorothy Shea, fez um apelo de última hora, mas a Ucrânia manteve sua posição. No fim, a Assembleia Geral aprovou três emendas sugeridas por países europeus, inserindo na proposta americana uma menção explícita à invasão russa e à violação da Carta da ONU.

Estados Unidos justificam postura com urgência para pôr um fim ao conflito

Os Estados Unidos justificaram sua oposição à resolução da Ucrânia argumentando que o mais importante era aprovar um documento que comprometesse todos os Estados-membros da ONU com o fim duradouro da guerra. A embaixadora dos EUA na ONU, Dorothy Shea, afirmou que a proposta americana enfatizava a necessidade de um rápido encerramento do conflito e a construção de uma paz duradoura entre Ucrânia e Rússia.

Segundo Shea, a resolução apresentada pelos EUA era uma "declaração histórica" que olhava para o futuro, em vez de revisitar o passado, e reforçava a ideia central de que "o caminho para a paz é possível". Por esse motivo, Washington se opôs à apresentação de outra resolução e instou a Ucrânia a retirar sua proposta em favor da versão americana, que, segundo os EUA, seria um compromisso mais direto para encerrar a guerra e garantir um acordo de paz estável.

Os Estados Unidos também pediram que a Assembleia Geral votasse sua proposta imediatamente após a análise da resolução ucraniana, reforçando sua tentativa de conduzir o debate para um consenso focado no futuro do conflito.

Em Nova York, manifestações na Times Square marcam aniversário da Guerra

Neste 24 de fevereiro, a comunidade ucraniana em Nova York realizou manifestações para marcar os três anos da invasão em grande escala da Rússia à Ucrânia. A cidade abriga cerca de 150 mil ucranianos, a maior comunidade do país nos EUA, e tem sentido os impactos da guerra, com muitas famílias perdendo entes queridos e lidando com a fuga em massa de milhões de ucranianos desde o início do conflito. Um dos atos aconteceu na Times Square, reunindo centenas de pessoas em solidariedade ao povo ucraniano.

Além disso, autoridades e diplomatas estrangeiros participaram de uma cerimônia no Bowling Green Park, no sul de Manhattan, onde a bandeira ucraniana foi hasteada. O prefeito de Nova York, Eric Adams, declarou oficialmente o 24 de fevereiro como o "Dia da Herança Ucraniana" e afirmou estar honrado em apoiar os ucranianos da cidade contra o que chamou de agressão.

Após visita de Macron, Keir Starmer seguirá para Washington

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, visitará Washington até o final desta semana para se reunir com o presidente Donald Trump. A viagem acontece em meio à crescente preocupação na Europa sobre a postura mais dura de Trump em relação à Ucrânia e suas tentativas de aproximação com Moscou durante o conflito de três anos.

Starmer e o presidente francês, Emmanuel Macron, estão articulados na busca por convencer Trump a não apressar um acordo de cessar-fogo com o presidente russo, Vladimir Putin, a qualquer custo, e a manter a Europa envolvida nas negociações. Eles também discutirão garantias militares para a Ucrânia, buscando assegurar um compromisso contínuo com o país frente à agressão russa.