Um Oscar imprevisível: falta de favorito claro aumenta chances “Ainda Estou Aqui”


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Feb 28 2025 7 mins   5

Clima de Copa do Mundo em pleno carnaval onde a bola da vez é o cinema. O Brasil chega ao Oscar com a certeza de que fez a maior campanha de um filme nacional na corrida por uma estatueta, ou por três, já que concorre com “Ainda Estou Aqui” nas categorias de Melhor Filme, Filme Internacional e Melhor Atriz para Fernanda Torres. A disputa deste ano está acirrada, mas a imprensa americana prevê que o longa de Walter Salles pode levar duas estatuetas.

Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles

Imprevisível é a melhor palavra para resumir a corrida pelo prêmio principal. As premiações paralelas que, são um termômetro para o Oscar, não cravaram o mesmo resultado.

O Bafta, da Academia Inglesa, quem levou foi “Conclave”, que também ganhou o prêmio de elenco do Sindicato dos Atores. Nas outras organizações de diretores e produtores, que têm muito peso nessa conta, “Anora” ficou com os troféus principais. “O Brutalista", venceu o Globo de Ouro e mais de 100 prêmios na temporada, e também entra no páreo em posição favorável.

Mas o ano foi tão atípico que as revistas especializadas apontam até para uma possível vitória de “Um Completo Desconhecido”. O longa de James Mangold, lançado na última semana de dezembro, ganhou força em fevereiro.

O grande azarão da noite

Nas previsões feitas pelas publicações americanas especializadas, o filme brasileiro não está entre os cinco primeiros cotados para o prêmio principal. Se ganhar, o longa de Salles pode se tornar o grande azarão da noite, mas em um ano tão atípico não dá para cravar que seja impossível.

Os grandes incêndios que atingiram Los Angeles alongaram o calendário da votação do Oscar, dando tempo para algumas produções crescerem e outras despencarem. “Ainda Estou Aqui” acabou sendo um grande beneficiado com essa mudança porque permitiu que mais votantes assistissem ao filme e que o nome de Fernanda Torres crescesse após a vitória no Globo de Ouro.

O apoio massivo dos brasileiros nas redes sociais também despertou um maior interesse pelo filme. Além disso, os meios de comunicação americanos também deram destaque gigantesco ao longa e à Fernanda Torres. “Ainda Estou Aqui” foi muito assistido nos cinemas dos Estados Unidos nas últimas semanas da votação, que se encerrou no dia 18 de fevereiro.

Ao mesmo tempo, “Emilia Pérez”, do francês Jacques Audiard, teve tempo de despencar - após uma temporada em que levou muitos prêmios - , principalmente por causa da descoberta de postagens preconceituosas da atriz principal, Karla Sofía Gascón, nas redes sociais. Declarações do diretor sobre o idioma espanhol e o México, país que retrata no filme, também ajudaram nessa degringolada após conseguir 13 indicações.

Críticas de muitos mexicanos e da comunidade trans, que também não se viram representados corretamente na tela, ajudou a descartar, mais uma vez, a possibilidade da Netflix - dona da produção aqui nos Estados Unidos - de conseguir a tão sonhada estatueta de Melhor Filme com "Emilia Pérez". A plataforma de streaming investe há anos em uma conquista do maior prêmio da noite e, sem dúvida, fez uma das campanhas mais caras dessa corrida.

Melhor Filme Internacional

O jornal americano New York Times apostou nesta semana na vitória do Brasil como Melhor Filme Internacional no Oscar. Em entrevista à RFI, o jornalista e crítico de cinema brasileiro, Rodrigo Salem, radicado em Hollywood, também faz suas previsões.

“Eu acho que 'Ainda Estou Aqui' fez uma campanha brilhante, começou a crescer na hora certa, enquanto 'Emilia Pérez', por causa das polêmicas envolvendo a Karla Sofia Gascón, caiu absurdamente. Ainda acho que Zoe Saldaña é a favorita para ganhar como atriz coadjuvante, mas eu tenho quase certeza de que 'Ainda Estou Aqui' vai levar como Melhor Filme Internacional”, diz.

O New York Times também aponta Fernanda como vencedora, mas destaca que essa categoria está meio parecida com a de Melhor Filme. Demi Moore (“A Substância”) tem um certo favoritismo por causa do termômetro das outras premiações, porém junto com ela está Mikey Madison, de “Anora” , que levou prêmios importantes, como o Bafta.

Crescem as apostas em Fernanda Torres

Fernanda Torres cresceu nas últimas semanas quando a votação dessas premiações anteriores já estavam encerrando. Essa combinação Fernanda, Demi e Mikey não aconteceu em nenhuma outra premiação: a estrela brasileira ainda não disputou com nenhuma delas. Uma vitória do Brasil seria uma prova do quanto a Academia está aberta a nomes até agora desconhecidos internacionalmente e a interpretações em outras línguas.

“Eu acho que tem dois fatores nessa altura do campeonato que a gente pode analisar: um é o grande engajamento do brasileiro em torno das redes sociais que ajudou na exposição do nome da Fernanda Torres e na própria exposição do nome do filme. O outro foi a campanha muito bem feita da Sony Classics e da empresa de relações públicas contratada que soube trabalhar o filme na hora certa, nos veículos corretos, que levou a Fernanda e o Walter para os prêmios certos na hora certa", analisa Rodrigo Salem.

"Para você ter ideia, agora a Fernanda Torres vai à uma premiação e a Ariana Grande faz questão de encontrá-la. Isso antigamente não existia, então foi tudo muito correto. Obviamente que tem o lado do filme ser muito bom também. Mas o próprio Walter sabe, ele concorreu como Melhor Filme Internacional, com Central do Brasil, há 26 anos. Ele sabe que não basta apenas ser bom, precisa ter uma campanha realmente forte, uma campanha rica e uma campanha que sabe fazer tudo na maneira correta para poder ser indicado e vencer o Oscar", conclui.