“Tarsila do Amaral: Pintar o Brasil Moderno”, a primeira retrospectiva da artista brasileira em Paris, terminou nesse domingo (2) depois de quatro meses em cartaz no Museu do Luxemburgo. A exposição foi “um sucesso” de púbico, festeja a curadora Cecilia Braschi e ajudou a valorizar a obra da artista na França.
A exposição parisiense reuniu cerca de 150 obras de Tarsila do Amaral, sendo 49 quadros, dando um panorama da carreira e produção da artista modernista, dos anos 1920 a 1960. A retrospectiva, aberta ao público em 9 de outubro no Museu do Luxemburgo de Paris, recebeu mais de 123 mil visitantes, com uma média de 1.038 pessoas por dia. “Um sucesso”, resume a curadora Cecilia Braschi.
O público era composto majoritariamente por franceses ou residentes na França, mas 19% eram estrangeiros, sendo muitos brasileiros. A curadora informa que o número de visitantes foi crescendo aos poucos e, no último final de semana, mais de 2.000 pessoas por dia visitaram a retrospectiva.
“O público que não conhecia a artista descobriu (sua obra) com muito interesse, e muitos brasileiros me disseram ter descoberto coisas novas”, afirma. Segundo comunicado final do Museu do Luxemburgo, 64% dos visitantes “nunca tinham ouvido falar em Tarsila do Amaral” e 8% conheciam a artista “somente de nome”. O nível de satisfação foi de 95%.
Dar mais visibilidade e valorizar a obra de Tarsila do Amaral na França, país onde ela iniciou sua carreira internacional há quase 100 anos, era justamente um dos objetivos dessa mostra. A mais famosa pintora brasileira é reconhecida em vários países, mas na França “ainda não tinha este prestígio, era conhecida apenas pelos especialistas”, lembra Braschi. Ela acredita que, depois da exposição parisiense, a modernista passa a ser uma “figura presente na cena artística e conhecida do público local”, contribuindo para o aumento de seu prestígio internacional. “Tomara que isso acabe também mudando a percepção da arte brasileira na França”, torce.
Críticas
A exposição de Tarsila do Amaral no Museu do Luxemburgo também foi sucesso de crítica. O evento recebeu muitos elogios na mídia francesa. Apenas o jornal Le Monde destoou, ao escrever que “a mostra exaustiva levanta questões contraditórias que provocam até mal-estar”.
Cecilia Braschi, antecipando críticas e polêmicas principalmente por causa da presença na retrospectiva do quadro “A Negra”, realizou, em parceria com a USP e o Centro Alemão de História da Arte, duas jornadas de debates sobre raça, identidade e gênero.
A curadora diz que ficou decepcionada com a análise negativa da obra de Tarsila feita pelo jornalista do Le Monde, mas contextualiza indicando que hoje “tem um problema com a recepção da obra ‘A Negra’ e a exposição tentou justamente encarar esses problemas, discutir e tentar achar respostas”.
Modernismo brasileiro em alta
Ao mesmo tempo que a obra de Tarsila do Amaral era exposta em Paris, a exposição “Brasil! Brasil! O nascimento do modernismo" estava em cartaz em Berna, na Suíça, antes de ser levada para Londres. Para Cecilia Braschi, essa grande visibilidade de obras-primas brasileiras na Europa poderia indicar que o modernismo do país “está na moda”, mas ela prefere pensar em “um novo interesse em uma cena artística que é ainda muito pouco conhecida na Europa e merece ser descoberta”.
O sucesso de público, tanto na França quanto na Suíça e em Londres, mostra que essas exposições eram necessárias. De Paris, a retrospectiva “Tarsila do Amaral: Pintar o Brasil Moderno” segue para o Museu Guggenheim de Bilbao, na Espanha, onde ficará exposta de 21 de fevereiro a 1° de junho. Cecília Braschi espera que essa “temporada brasileira na Europa” tenha continuidade com a temporada cruzada França-Brasil que acontece agora em 2025.