Feb 24 2025 12 mins
A guerra na Ucrânia completa três anos nessa segunda-feira (24) em uma nova etapa de grandes incertezas para Kiev, devido à reaproximação dos Estados Unidos com a Rússia. O professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo, Gunther Rudzit, acredita que este ano deve haver um cessar-fogo no conflito e espera que a Europa finalmente estabeleça uma estratégia de segurança comum contra a ameaça russa e sem o apoio dos EUA.
Para analisar o primeiro e segundo aniversários da invasão russa à Ucrânia, ocorrida em 2022, a RFI já havia ouvido a opinião de Gunther Rudzit sobre o conflito. Em 2023, a duração da guerra surpreendia. Em 2024, ele falava “em uma guerra em que todos perdem”. Neste terceiro aniversário, o professor da ESPM, especialista em segurança internacional, prevê uma pausa no conflito em 2025 devido às pressões de Trump.
“Eu não digo terminar, eu digo parar. Um cessar-fogo deve ser alcançado pela pressão que o presidente Trump vem fazendo sobre a Ucrânia e sobre a Rússia, mas isso não levará a um acordo de paz permanente”, explica. Ele indica que dificilmente os ucranianos aceitariam “perder todo o território ocupado hoje pelas tropas russas e, mesmo que aceitem, a conjuntura não é de que a paz reine não só na Ucrânia, mas em toda a Europa”.
“Quem não acredita que o presidente russo possa continuar avançando em outros países, ainda não entendeu o que é esse governo Vladimir Putin”, adverte, ressaltando a necessidade urgente da Europa conseguir superar suas divisões e estabelecer uma estratégia de segurança europeia contra a ameaça russa e sem o apoio dos Estados Unidos.
Risco para a democracia
Segundo ele, “a Europa hoje se encontra em uma encruzilhada muito séria e importante para o futuro, e eu arrisco dizer, da própria democracia no mundo. Eu torço muito para que esses líderes europeus encontrem um caminho correto”.
Gunther Rudzit diz que as recentes farpas trocadas entre os presidentes Donald Trump e Volodymyr Zelensky e a escalada da tensão na relação bilateral se deve “à estratégia do presidente Trump para conseguir um acordo melhor para o acesso aos minerais raros que existem na Ucrânia”. Mesmo o presidente ucraniano tendo rejeitado a primeira oferta americana, ele acredita que “essa negociação vai sair”. No início de fevereiro, o presidente americano Donald Trump anunciou que queria negociar um acordo com a Ucrânia para obter acesso a 50% de seus minerais raros em troca da ajuda miltar americana, essencial para o país resistir à ofensiva russa.
Nova Conferência de Ialta
Na opinião de Rudzit, o que falta ainda entender efetivamente “é a estratégia do presidente Trump para conter a China”. Ele levanta a hipótese de que a reunião de Riad, em 18 de fevereiro, que representou a primeira negociação de alto nível entre os Estados Unidos e a Rússia desde a invasão da Ucrânia, possa ter sido uma “nova Conferência de Ialta”, quando, no final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos aceitaram uma zona de influência soviética na Europa.
“O que parece é que essa conferência em Riad, na Arábia Saudita, é o redesenho das relações europeias em que os americanos estariam dando uma nova zona de influência para a Rússia na Europa. Para quê? Para diminuir essa presença americana na Europa e se concentrar na Ásia para conter a China”, detalha.
Essa estratégia levaria ao afastamento da Rússia com a China, hoje principal aliada de Moscou. “O presidente Vladimir Putin não gosta da dependência que hoje ele tem em relação à China. Ele se tornou um parceiro Júnior nessa relação. Pode ser que os assessores do governo Trump estejam tentando fazer essa jogada, oferecer a diminuição das sanções, já esse restabelecimento de relações, para quebrar um pouco essa união tão forte entre Moscou e Pequim”.
Brics
Sobre o Brics, bloco presidido atualmente pelo Brasil e composto, entre outros, por Rússia e China, ele não vê os países fortemente alinhados. “Lógico que todos vão ter um discurso a favor de paz, de parar com a guerra, mas paz baseada em que aspecto? Perda de território?”, questiona.
Gunther Rudzit aponta que nesta questão o governo chinês também está em uma encruzilhada. “Pequim já vem se pronunciando que defende a integridade territorial de todos porque está pensando no seu caso com Taiwan. A anexação de território por parte de outro país para Pequim não é tão fácil assim defender”, contextualiza.
Clique na imagem principal para ouvir a entrevista completa