Brasil leva primeiro Oscar com “Ainda Estou Aqui”, que ajuda "a entender o presente", diz Walter Salles


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Mar 03 2025 4 mins   5

O Brasil conquistou neste domingo (2) seu primeiro Oscar, com "Ainda Estou Aqui", filme dirigido por Walter Salles, que venceu na categoria de melhor filme internacional e teve três indicações, incluindo a de melhor atriz para Fernanda Torres. A brasileira perdeu a estatueta para a Mikey Madison, que estrelou "Anora", o grande vencedor da noite.

Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles

Foram três horas de espera até o anúncio do prêmio. Muito aplaudido e visivelmente emocionado, o diretor Walter Salles fez uma homenagem no palco a Eunice Paiva, que inspirou o longa.

"Essa estatueta vai para uma mulher que, depois de uma perda tão grande em um regime tão autoritário, decidiu não desistir. Esse prêmio vai para ela: Eunice Paiva, e vai para as duas mulheres extraordinárias que deram vida a ela: Fernanda Torres e Fernanda Montenegro".

O filme venceu uma disputa acirrada com "Emilia Pérez" (França), "A Garota da Agulha" (Dinamarca), "A Semente do Fruto Sagrado" (Alemanha) e "Flow" (Letônia).

“É uma cultura que está sendo reconhecida. É a forma como fazemos cinema no Brasil que está sendo reconhecida. É uma literatura brasileira que está sendo reconhecida pelo livro de Marcelo Rubens Paiva, no qual o filme foi inspirado. É a música brasileira que também está sendo reconhecida. O filme é realmente liderado por Caetano Veloso, Gal Costa, Erasmo Carlos e tantos outros cantores extraordinários, cuja música deu sentido para muitas das cenas do filme”, disse o diretor após descer do palco, em entrevista à imprensa.

"Este filme foi visto por 5 milhões de brasileiros. E o público brasileiro, de certa forma, se tornou o coautor do filme. O que aconteceu no Brasil foi notícia em diferentes jornais do mundo, e eles perceberam que havia um filme que quebrou a barreira do sistema político binário no Brasil e, na verdade, ofereceu uma reflexão da nossa história", avalia.

Para Fernanda, o filme "traz uma reflexão importante, toca o coração de gregos e troianos. Qualquer pessoa que assiste ao filme pensa: 'Isso está errado, essa família não tinha por que ser perseguida'", disse em entrevista à agência AFP.

“O projeto nos parecia uma chance de olhar para trás, para entender de onde vínhamos. Mas, com o crescimento da extrema direita no Brasil a partir de 2017, percebemos que também era um filme para entender o presente", completou Walter Salles.

A premiação de Hollywood foi acompanhada ao vivo em todo o país, inclusive no Sambódromo do Rio de Janeiro, na primeira noite dos desfiles das escolas de samba.

Melhor Atriz

O penúltimo prêmio da noite foi o de melhor atriz, uma das grandes surpresas da noite. Mikey Madison, que estrelou o longa "Anora", que tinha até um certo favoritismo por ter ganhado o Bafta, levou a estatueta, mas Demi Moore era apontada como favorita. "Anora", que também venceu a Palma de Ouro em Cannes, foi o grande vencedor da noite e levou cinco estatuetas, incluindo a principal, melhor filme, categoria que o Brasil também estava concorrendo.

Outras vitórias

A vitória de 'Flow", como melhor animação, deu à Letônia também o seu primeiro Oscar e mostrou um novo olhar da Academia, mais aberta à diversidade, já que a produção independente desbancou filmes milionários americanos.

Nas outras categorias de atores, os favoritos levaram seus prêmios para casa. Adrien Brody, melhor ator, por "O Brutalista", Kieran Culkin recebeu o Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel em “A Verdadeira Dor", assim como a vencedora na categoria feminina - Zoe Saldaña pela atuação em “Emília Perez".

Zoe trouxe ao microfone um dos momentos mais emocionantes da noite. “Minha avó veio para este país em 1961. Sou uma criança orgulhosa de pais imigrantes. Com sonhos, dignidade e mãos trabalhadoras. Sou a primeira americana de origem dominicana a receber um Oscar. E sei que não serei a última”, declarou.

A melhor música original foi também para “Emília Perez” e por uma canção interpretada por Zoe Saldaña e Karla Sofia Gascón, “El Mal", dos compositores franceses Clement e Camille Ducol. A atriz espanhola, Karla Sofía Gascón, que protagonizou parte dos escândalos da temporada de prêmios, compareceu à festa.

(RFI e AFP)