Um novo cenário na guerra: diante do impasse, EUA negociam diretamente com o Hamas


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Mar 07 2025 6 mins   2

Há uma espécie de limbo jurídico e diplomático na guerra entre Hamas e Israel. No sábado passado, 1 de março, a primeira fase do cessar-fogo terminou de forma oficial. A segunda fase sequer foi negociada. Desde então, não há conversas indiretas entre as partes, nem guerra, nem cessar-fogo. Há um vazio repleto de tensões, expectativas e incertezas.

Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel,

As negociações indiretas entre Hamas e Israel se mantêm paralisadas: o Hamas quer avançar para a segunda fase do acordo que prevê o fim da guerra e a retirada integral das forças israelenses da Faixa de Gaza. Já Israel quer estender a primeira fase por mais 42 dias que levariam à libertação de outros reféns mantidos em cativeiro pelo grupo extremista palestino.

O Hamas também deixa claro que não pretende repetir a lógica de proporção entre o número de reféns israelenses libertados em troca de prisioneiros palestinos. Ou seja, deve exigir a libertação de mais prisioneiros, entre eles de alguns daqueles que são considerados nomes importantes, como é o caso de Marwan Barghouti, julgado em 2002 por um tribunal militar e condenado a cinco penas de prisão perpétua por planejar ataques contra israelenses.

Em Israel, o impasse aumenta o desespero dos familiares dos reféns: ainda há 59 reféns, dos quais 35 estão mortos e 22, vivos. Não se sabe a situação dos outros dois.

Ao mesmo tempo, sob fortes críticas da comunidade internacional, Israel determinou a interrupção do fluxo de ajuda humanitária a entrar na Faixa de Gaza como forma de pressionar o Hamas a aceitar a extensão da primeira fase do acordo.

EUA negociam com o Hamas

Numa situação absolutamente sem precedentes, a própria Casa Branca admitiu que negocia diretamente com o Hamas, classificado como grupo terrorista pelos Estados Unidos desde 1997.

Fontes do Hamas disseram ao canal saudita Asharq Al-Awsat que a organização estaria disposta a libertar reféns israelenses com cidadania norte-americana, caso obtenha um compromisso por parte de Israel sobre a segunda fase do acordo de cessar-fogo.

Duas fontes egípcias disseram à Reuters que houve negociações na noite da última quarta-feira entre Adam Boehler, enviado de Donald Trump para assuntos de reféns, membros do alto escalão do Hamas e mediadores de Egito e Catar. Eles disseram que as conversas abordaram inclusive a futura administração em Gaza após a guerra.

As fontes acrescentaram que as discussões terminaram positivamente, o que poderia indicar um movimento mais próximo à implementação da segunda fase do acordo de cessar-fogo em Gaza.

Após a divulgação pelo portal Axios de que os Estados Unidos estariam negociando diretamente com o Hamas a libertação de reféns com cidadania norte-americana, membros do grupo disseram ter encaminhado aos EUA uma proposta de cessar-fogo com Israel de longa duração, mas não definitiva.

“Estamos interessados, por meio de conversas com os EUA, em chegar a um acordo abrangente que garanta um cessar-fogo e a retirada israelense (da Faixa de Gaza)”, disseram as fontes do Hamas. Israel nega as informações.

A RFI questionou o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. A resposta é que neste momento não há qualquer comentário sobre o assunto.

“O governo de Israel não se importa com seus cidadãos. É possível que esse movimento da Casa Branca consiga levar à libertação de reféns com cidadania norte-americana, mas não sabemos o que pode ser alcançado para além disso. O que fica claro é que os cidadãos israelenses precisam confiar num governo estrangeiro para libertar os reféns israelenses. No caso de Netanyahu, é claro que ele preferia que essas negociações (entre Hamas e Estados Unidos) não acontecessem”, explicou à RFI Uriel Abulof, professor de Ciências Políticas nas universidades de Princeton, nos EUA, e Tel Aviv.

Avaliação israelense

Segundo o Canal 12, as autoridades israelenses já consideram que será preciso mudar a abordagem. Se Israel insistiu até agora em estender a primeira fase do acordo em troca da libertação de reféns, é possível que seja necessário oferecer mais ao Hamas.

Israel considera que talvez o grupo extremista palestino possa se interessar em obter parte dos compromissos da segunda fase, mas não todos. A questão é que o Hamas deixa claro que só libertará mais reféns israelenses no contexto oficial da segunda fase, isso porque nesta etapa do acordo Israel deverá retirar todas as tropas da Faixa de Gaza e declarar o fim da guerra, os dois principais objetivos da organização palestina.

Por outro lado, o temor de Israel é que a motivação dos Estados Unidos para se envolver diretamente no processo de libertação de reféns desapareça do momento em que aqueles cinco israelenses com cidadania norte-americana sejam soltos. Importante citar que deste grupo de cinco apenas um está vivo.

De qualquer forma, Steve Witkoff, o enviado especial de Donald Trump para o Oriente Médio, deve vir à região na próxima semana. Israel prometeu aos Estados Unidos que não voltaria a combater na Faixa de Gaza até que ele esteja novamente no Oriente Médio e tente encontrar uma saída para o impasse nas negociações entre Hamas e Israel que seguem paralisadas.