Mar 03 2025 9 mins
Entre os vários blocos que desfilam no carnaval carioca, o “Ulalaô” anima a folia com sotaque e ritmo diferentes. O bloco celebra a fusão entre as culturas francesa e brasileira. Misturando batucada e valsa, funk e “chanson française”, a banda desfila nesta segunda-feira (3) pelas ruas da Urca, no Rio de Janeiro, arrastando milhares de foliões.
Tudo no bloco foi criado para fazer essa ponte cultural entre o Brasil e a França, a começar pelo nome “Ulalaô” que é a contração da expressão “oh là là” em francês com a famosa marchinha de carnaval “Ala lá ô, mais que calor ô, ô, ô”. “A gente estava atrás de um nome que representasse as duas culturas e ‘Ulalaô’ é um nome perfeito porque ele é curto e passa bem o que é o espírito do bloco”, diz o fundador Daniel Cariello.
“Ulalaô” foi criado em 2023 e desfilou pela primeira vez no ano passado na Urca, já com muito sucesso, conta o trompetista. “Em 5 meses a gente saiu do zero a um bloco completo, com um super repertório, com fantasias, com dança, com 40 músicos, 10 dançarinas e 2.000 pessoas desfilando. Foi uma coisa feita em tempo recorde e o resultado ficou muito interessante”, garante.
O bloco é fruto de 20 anos de pesquisa musical de Daniel Cariello, que é casado com uma francesa e recebeu o incentivo da mulher para botar o “Ulalaô” na rua. Todas as músicas apresentam versões e arranjos originais fazendo a fusão de músicas brasileiras e francesas.
“Em algumas músicas a gente consegue até fazer um arranjo conceitual. Por exemplo, a gente toca ‘Les copains d’abord', do Brassens, e a gente emenda com 'Minha Jangada vai sair pró mar’, do Caymmi. Então, falamos de uma música francesa em que os amigos entram em um barco e de repente estão no barco do Caymmi”, revela.
Outros exemplos que levam os foliões a dançar até valsa, cancã e charleston nas ruas cariocas são as “misturas” de ritmos entre Serge Gainsbourg e os tambores do Olodum, Wilson Simonal e a sensualidade de Brigitte Bardot.
“É maravilhoso e é bem interessante porque as pessoas não esperam que a gente toque esse repertório diferente, que foge do óbvio, foge das marchinhas tradicionais do Carnaval. As pessoas se emocionam, se surpreendem, ficam felizes, dançam juntas. É bem interessante a dinâmica do bloco”, relata.
Do Pão de Açucar à Torre Eiffel
Depois de um desfile de pré-Carnaval que animou as ruas de Santa Tereza em 20 de janeiro, “Ulalô” volta a trazer a folia franco-brasileira para as ruas da Urca nesta segunda-feira. O núcleo do bloco sai fantasiado com as tradicionais camisetas listradas francesas e boinas feitas de chita brasileira mas, como manda o espírito do Carnaval, o bloco é aberto a todos. “Atrás do Ulalaô só não vai ‘qui est déjà mort’”, brinca Daniel Cariello traduzindo a letra da música de Caetano Veloso. Os organizadores pedem apenas que os foliões usem cores francesas e brasileiras.
O desfile desta segunda sai do quadrado da Urca e termina na Praia Vermelha, cartão postal do Rio de Janeiro, reforçando a proposta do bloco. “O tema seria essa ligação entre o Pão de Açúcar e a Torre Eiffel, entre as duas cidades, os dois países que se admiram há 200 anos, desde que a Missão Artística Francesa veio para o Brasil, em 1816”, salienta.
Segundo ele, “a França chegou trazendo a polca e a valsa, que viraram choro, que depois viraram samba e depois viraram o samba-enredo. Então, a França, de certa maneira, está na raiz do Carnaval brasileiro”.
Para reforçar essa tese, Daniel Cariello ensina que “a primeira marchinha brasileira, ‘Zé Pereira’, é uma versão de uma música de bombeiros franceses, uma música marcial”. Depois do desfile neste Carnaval, o fundador do Ulalaô espera poder botar o seu bloco na rua também na França ainda este ano, integrando a programação da temporada cruzada entre os dois países.