Mar 07 2025 12 mins 1
O medo de uma Terceira Guerra Mundial nunca foi tão forte na Europa. Com a volta ao poder do presidente americano, Donald Trump, e a aproximação entre os Estados Unidos e a Rússia, pesquisas mostram que a possibilidade que o conflito na Ucrânia se estenda a outros países da Europa assombra o cotidiano dos europeus.
O temor de uma guerra em escala europeia ou mundial se intensificou nos últimos dias, principalmente após o constrangedor encontro entre Trump, seu vice, JD Vance, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em Washington, na última sexta-feira (28). A confirmação de que o líder republicano cumprirá suas promessas de campanha, interrompendo o apoio à Kiev, e consequente e rápida movimentação de líderes para discutir o rearmamento das nações mostraram a urgência da situação.
O discurso do presidente francês, Emmanuel Macron, na quarta-feira (5), e a cúpula da União Europeia na quinta-feira (6), contribuíram com a tomada de consciência sobre a escalada de tensão. O temor da guerra estampou capas de jornais e foi tema de reportagens nas rádios e TVs da França durante a semana.
83% dos franceses preocupados com a guerra
Várias pesquisas divulgadas nesta semana mostram o aumento da preocupação dos franceses com o conflito na Ucrânia. É o caso de uma sondagem do Ifop Fiducial, divulgada na quinta-feira, que analisa a evolução deste sentimento.
Em março de 2022 - poucos dias após o início da invasão russa - 92% dos franceses se declaravam preocupados com a guerra. Esse apreensão caiu para 75% em maio de 2023 e voltou a subir para 83% neste mês.
Outra pesquisa, do instituto Elabe, divulgada nesta semana, mostra que 76% dos franceses pensam que a guerra vai se estender a outros países vizinhos da Ucrânia e 64% acreditam que o conflito pode chegar na França.
Esse mesmo estudo mostra a oposição da população francesa no envolvimento direto no conflito: 68% das pessoas entrevistadas são contra o envio de soldados do país para combater na Ucrânia. Além disso, 73% acreditam que os Estados Unidos não são mais um país aliado.
Um levantamento do instituto YouGov divulgado na quinta-feira aponta que britânicos, alemães, espanhóis, franceses e italianos veem Trump como uma grande ameaça à paz e à segurança na Europa.
A população portuguesa também está apreensiva com a volta de Trump ao poder, segundo uma pesquisa divulgada em janeiro. O balanço indica que o maior medo em Portugal neste início de ano é de uma Terceira Guerra Mundial, um sentimento diretamente relacionado com o retorno do líder republicano à Casa Branca.
Discurso marcial de Macron
Na noite de quarta-feira, o presidente francês, Emmanuel Macron, fez um pronunciamento de pouco mais de 13 minutos em cadeia nacional de rádio e TV adotando um tom marcial e referindo-se diretamente à “ameaça russa” à Europa.
Em um tom grave, o líder centrista afirmou que a Europa está entrando em “uma nova era”. Segundo ele, a preocupação da população com o aumento das tensões é “legítima”. “Se um país pode invadir impunemente seu vizinho na Europa, ninguém mais tem certeza de nada”, disse.
No discurso que alcançou quase 72% da audiência na TV francesa, Macron também expressou sua vontade de lançar um “debate estratégico” sobre a dissuasão nuclear. Além disso, o líder centrista apelou ao patriotismo da população.
“O país precisa de vocês, do engajamento de vocês”, afirmou. No entanto, Macron defende, por enquanto, uma mobilização de forças europeias após a assinatura de um acordo de paz entre a Ucrânia e a Rússia , para garantir o respeito do eventual compromisso.
Convocação “acordou” a juventude, diz jornal
O jornal Le Parisien desta sexta-feira (7) traz em sua reportagem de capa a preocupação dos jovens franceses com a possibilidade de uma extensão da guerra à França. O diário nota que, ao “mencionar abertamente” a “ameaça russa” e dizer que “a França precisa de vocês”, Macron sinalizou que a possibilidade de um confronto armado com Moscou “não é mais abstrata”. Le Parisien ouviu jovens pelo país que explicam observar os acontecimentos “ora com ansiedade, ora na negação”.
O medo do futuro aumenta uma angústia que já vinha se acentuando nos últimos anos, com a pandemia de Covid, a emergência climática – que leva muitos a não querer mais ter filhos – e as guerras na Ucrânia e em Gaza. Alguns têm tido pesadelos recorrentes com as notícias e a ideia de Paris ser bombardeada, e já planejam onde poderão se refugiar no caso de uma guerra – para a vizinha Bélgica ou a distante Austrália, por exemplo.
Outros, ao contrário, dizem estar prontos para se engajar, como uma estudante de Ciências Políticas de 20 anos que fez serviço militar aos 18. “Sou uma reservista e nos deixaram claro que isso significa que um dia eu poderia ir para o front militar”, afirmou ela, ao diário.
O Ministério da Defesa se mostra otimista quanto ao patriotismo dos jovens franceses. Em 2015, ano da série de atentados terroristas contra o jornal Charlie Hebdo e o Bataclan, o país teve 50 mil alistamentos a mais nas Forças Armadas. O ano passado também foi favorável: após vários anos de queda, em 2024 o número de candidatos atingiu a meta, de cerca de 27 mil alistamentos.