Mar 04 2025 9 mins 4
As novas tarifas impostas pelo presidente americano, Donald Trump, sobre produtos importados do México, Canadá, com acréscimo às taxas já cobradas da China, entraram em vigor nesta terça-feira (4). As medidas aumentam as tensões comerciais e trazem impactos significativos para a economia global. Pequim já reagiu e promete taxar uma série de produtos americanos.
Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York
Ao anunciar a decisão, Trump afirmou que ela foi tomada devido ao fluxo considerado inaceitável de drogas como o fentanil e migrantes sem documentação para os Estados Unidos. os jornalistas presentes no Roosevelt Room na Casa Branca que "não há mais espaço para o México ou para o Canadá" e que as tarifas são definitivas. A decisão gera tensões comerciais entre os países, afetando preços e cadeias de abastecimento.
Nesta manhã, a China anunciou tarifas adicionais sobre uma série de produtos americanos: 15% sobre frango, trigo, milho e algodão. Outros produtos importados dos Estados Unidos, como sorgo, soja, carne suína, bovina, frutos do mar, frutas, vegetais e laticínios estarão sujeitos a um imposto adicional de 10%.
"Ao agir unilateralmente, Washington está minando o sistema de comércio multilateral" e "enfraquecendo os fundamentos da cooperação econômica e comercial entre a China e os Estados Unidos", justificou o Ministério das Finanças chinês em um comunicado. As medidas de retaliação chinesas entram em vigor no dia 10 de março.
O Canadá já havia anunciado uma tarifa de 25% sobre produtos americanos e o México deve seguir o mesmo caminho, o que pode prejudicar exportadores americanos.
Mercado financeiro reagiu mal às tarifas
O mercado reagiu negativamente após a confirmação das tarifas. A Dow Jones caiu 1,48% e a Nasdaq teve uma queda de 2,64%.
O setor de tecnologia foi um dos mais impactados. Empresas como Nvidia e Broadcom registraram perdas significativas, com quedas de 8,69% e 6,05%, respectivamente. Além disso, a Amazon teve uma desvalorização de 3,42%. De acordo com o índice da S&P, o setor de tecnologia apresentou uma perda conjunta de 3,52%.
As moedas do México e do Canadá também se desvalorizaram em relação ao dólar americano após o anúncio das tarifas. Além disso, há preocupações de que essas medidas possam elevar a inflação nos Estados Unidos e desacelerar o crescimento econômico, especialmente nos setores automotivo e de tecnologia.
Analistas temem que a escalada nas tensões comerciais possa levar a uma guerra comercial mais ampla, afetando negativamente o crescimento econômico global e aumentando os preços para os consumidores. A continuidade dessa tendência dependerá das próximas ações dos países envolvidos e de possíveis negociações para mitigar os impactos dessas tarifas.
Pequenos produtores americanos se preparam para impacto
Os efeitos podem ser significativos, especialmente para pequenas empresas. As tarifas elevam o custo de importação de bens e matérias-primas, reduzindo as margens de lucro e pressionando os empresários a aumentarem os preços para os consumidores.
Isso pode afetar a fidelidade dos clientes, que podem buscar alternativas mais baratas em grandes empresas ou concorrentes.
As tarifas podem também causar disrupções na cadeia global de abastecimento, tornando mais difícil para pequenas empresas conseguirem os produtos de que precisam. Há possibilidade de atrasos nas entregas, perda de receita e até prejuízo na relação com os clientes.
Apesar de Trump afirmar que as tarifas serão pagas pelos países exportadores, na prática, o custo recai sobre os consumidores americanos. Produtos como frutas do México, celulares da China e madeira do Canadá ficarão mais caros. Um estudo da Tax Foundation apontou que, se todas as tarifas anunciadas forem implementadas, os impostos adicionais podem custar, em média, US$ 800 - aproximadamente R$ 4.700 - por família americana em 2025. Isso pode pressionar a inflação, elevando o custo de vida no país.
Tarifas geram tensão entre velhos parceiros comerciais
A ministra das Relações Exteriores do Canadá, Mélanie Joly, classificou as tarifas como uma "ameaça existencial" para o país, alertando que milhares de empregos canadenses estão em risco. Em coletiva de imprensa, ela declarou que o Canadá está pronto para reagir à nova taxação. O
O governo canadense já preparou uma lista de US$ 30 bilhões em produtos americanos que podem ser taxados, incluindo itens do dia a dia como roupas, perfumes e alimentos. O primeiro-ministro Justin Trudeau também contestou os argumentos de Trump sobre o tráfico de fentanil, destacando que apenas 1% da droga apreendida nos EUA vem do Canadá.
No México, a presidente Claudia Sheinbaum reforçou que o país exige respeito e deixou claro que cooperará com os Estados Unidos, mas sem aceitar subordinação. As tarifas podem prejudicar as exportações mexicanas e aumentar as tensões entre os dois países.
Com essas reações, cresce a possibilidade de retaliações em cadeia, afetando não apenas o comércio, mas também o ambiente diplomático e a estabilidade econômica global.
Brasil deve sofrer consequências da taxação de aço e alumínio
A medida tem um impacto direto para o Brasil, que é o segundo maior fornecedor de aço para os Estados Unidos, atrás apenas do Canadá. Em 2024, o país exportou cerca de US$ 3,5 bilhões (cerca de R$ 21 bilhões) em ferro e aço para o mercado americano.
Com a nova tarifa, as siderúrgicas brasileiras podem perder competitividade, já que o aumento nos custos pode tornar o aço brasileiro menos atraente para os compradores americanos. Além disso, o Brasil já sinalizou que pode adotar medidas de reciprocidade caso os EUA mantenham essa política protecionista.
Promessa de campanha de Trump
A imposição das tarifas faz parte de uma das principais promessas de campanha de Trump: priorizar a indústria americana e reduzir a dependência de produtos estrangeiros. Ele argumenta que os Estados Unidos precisam produzir seu próprio aço e alumínio, em vez de importá-los. Para ele, as tarifas são uma ferramenta essencial para corrigir desequilíbrios comerciais e fortalecer a manufatura nacional.
Apesar das críticas de economistas e da preocupação com possíveis prejuízos internos, Trump tem minimizado esses riscos e incentivado empresas estrangeiras a investirem em fábricas dentro dos Estados Unidos para evitar as tarifas.