Feb 08 2023 16 mins
O forte terramoto, com magnitude de 7,8 na escala de Richter, foi sentido na madrugada de segunda-feira, apanhando a esmagadora maioria das pessoas dentro de casa, muitas a dormir. O número de mortes não pára de aumentar. As operações de busca e salvamento prosseguem na Síria e na Turquia e cada minuto conta.
O Presidente da Turquia decretou sete dias de luto nacional em todo o país pelas vítimas do terramoto. As operações de resgate nas cidades turcas mais afectadas pelos sismos poderão ser prejudicadas pelas temperaturas geladas, que ficam abaixo dos zero graus durante a noite.
O nosso correspondente em Ancara, José Pedro Tavares, descreve "uma verdadeira corrida contra o tempo. Como é sabido, as primeiras 36 a 48 horas são absolutamente fundamentais para encontrar sobreviventes. Já se encontraram mais de 8.000 pessoas, a maioria das quais nas primeiras horas após o primeiro abalo que ocorreu na madrugada de segunda-feira, às 4h17 hora local".
As operações de resgate estão a ser dificultadas pela vastidão da área, que cobre dez províncias na Turquia, mas também pela vaga de frio, com neve e temperaturas negativas. "Para além dos ferimentos e de todas as condições, a questão do frio, essas pessoas vão sofrer de hipotermia até porque estão debaixo dos escombros, em roupa interior e pijamas, que eram as roupas que estavam a utilizar quando o mundo desabou a seus pés", descreve José Pedro Tavares.
A Turquia é o terceiro país, em termos absolutos no mundo inteiro, onde mais pessoas morreram em tremores de terra na história contemporânea recente. "Nos últimos cem anos houve 12 sismos e morreram 90.000 pessoas. A Turquia assenta na confluência de três grandes placas tectónicas; europeia, africana e arábica, criando uma série de falhas. A placa que libertou energia foi a placa do leste da Anatólia, que vem da ilha do Chipre", explica.
O forte terramoto, com magnitude de 7,8 na escala de Richter, foi sentido durante a noite de domingo para segunda-feira, apanhando a esmagadora maioria das pessoas dentro de casa, muitas a dormir. "Estes sismos foram, provavelmente, os mais intensos e poderosos dos últimos cem anos. Falei com várias pessoas que estavam na área e que me disseram - Estes segundo pareceram uma eternidade, como se o mundo, as casas, as paredes estivessem a explodir", acrescenta.
A nível interno, a Turquia vai ter eleições presidenciais e legislativas cruciais dentro de quatro, cinco meses. "Começam a surgir questões quanto à responsabilidade política de haver tantas vítimas mortais, já que muitos prédios colapsaram como castelos de cartas, quando não o deveriam ter feito poque a Turquia tem uma legislação rigorosa no que diz respeito à construção anti-sísmica", conta.
Questionado sobre a possibilidade de haver um impacto deste acontecimento geológico nas questões geopolíticas, no braço de ferro apondo Ancara à Suécia e à Finlândia, em torno da adesão destes países nórdicos à NATO, José Pedro Tavares lembra que existe essa possibilidade: "Há aqui uma corrente de solidariedade que poderia ser utilizada para tentar ultrapassar no futuro diferendos políticos. Vamos ver se os governos aproveitam a onda e conseguem mudar o chip nas suas relações bilaterais".
"As relações entre a Turquia e a Síria poderiam sofrer um degelo visto que os dois países são vítimas deste enorme desastre natural. A própria guerra na Síria também pode sofrer alteração depois desta tragédia. A situação na Síria é ainda mais complicada do que na Turquia porque, ao contrário da Turquia, não existe um Estado forte, não há mecanismos, não há protocolos. O país está em guerra civil há doze anos e as duas províncias mais afectadas são duas províncias que estão em lados opostos da guerra; Alepo e Idlib", acrescentou o nosso correspondente em Ancara.