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Apr 19 2022 51 mins   10
Entrevista com Roberta Kovac, César Rocha e Candido Pessôa. Por Marcelo Consentino. Rádio Estado da Arte. O que é uma pessoa? Resposta: “Um membro da espécie humana que se comporta como se comporta por causa de muitas características ou propriedades internas, entre elas sensações, decisões, fantasias, aptidões, percepções, pensamentos, virtudes, intenções, habilidades, instintos, devaneios, incentivos, atos de vontade, alegria, compaixão, defesas emocionais, crenças, complexos, expectativas, anseios, escolha, impulsos, ideias, responsabilidades, satisfações, memórias, desejos, necessidades, sabedoria, quereres, um instinto de morte, um senso dever, sublimação, impulsos, capacidades, propósitos, vontades, informação, um superego, proposições, experiências, atitudes, conflitos, sentidos, formações reativas, uma vontade de viver, consciência, angústia, depressão, medo, razão, libido, energia, reminiscências, inibições, e doenças mentais”. Além de exprimir o senso comum e de catalogar o vocabulário de mais de dois mil anos de investigações psicológicas desde a filosofia grega à psicanálise, a descrição de Burrhus Skinner é especialmente eloquente por sintetizar tudo aquilo que, segundo seu autor, uma pessoa não é nunca foi e jamais será. Contra essa ilusão, dita “mentalista”, ele oporia sua perspectiva “radical”, chegando a sugerir que ela “provavelmente conclama à mais drástica transformação jamais proposta em nosso modo de pensar sobre o homem: é quase literalmente uma questão de virar a explicação do comportamento de dentro para fora”. O impacto calculado de formulações desse tipo cumpriria sua função de despertar o olhar humano para a singularidade da recém nascida ciência do comportamento, mas também faria do behaviorismo um dos “ismos” mais controvertidos do século XX. Se para os mais deslumbrados o ideal de um progresso cientificamente orientado à prosperidade parecia descer do céu à terra, para seus antagonistas, pessoas como Pavlov teriam convertido o “How like a god!”, de Hamlet, em “How like a dog!” E de Admirável Mundo Novo e 1984 a Laranja Mecânica e Matrix uma corrente ficcional tão excitante quanto inquietante se habituaria a associar o ideário comportamentalista a delírios de controle sobre-humano e processos de desumanização em massa. Cientificamente indiferentes aos exageros de entusiastas e alarmistas, contudo, os analistas comportamentais continuam a lapidar a teoria e a empiria do comportamento, acumulando sólidos benefícios ao aplicá-las a práticas como a educação, a gestão pública e privada, a reabilitação clínica e a socialização de deficientes e delinquentes. E, hoje, após as experiências totalitárias do século XX, na era da globalização econômica, das redes virtuais e do recrudescimento do fundamentalismo religioso, as questões provocadas pelo comportamentalismo são talvez mais urgentes do que nunca. Afinal, que são todos os sistemas jurídicos, políticos, religiosos; suas leis, costumes, ritos; seus valores, crenças, ideais e toda a multidão de símbolos que chamamos “cultura”, senão artifícios fabricados por seres humanos para estimular ou inibir comportamentos humanos? O que mais fazem pedagogos, psicoterapeutas, sacerdotes senão aplicar técnicas de previsão, interpretação e controle de comportamento a fim de capacitar pessoas a prever, interpretar e controlar comportamentos? E, acima de tudo, podemos ou não podemos selecionar nossos próprios comportamentos?, podemos ou não podemos, em uma uma palavra, determinar nosso destino? .. (Reprodução) .. Convidados Roberta Kovac: mestre em Psicologia Experimental pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, psicoterapeuta, e professora do Núcleo Paradigma de Análise do Comportamento. César Rocha: doutorando em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos com pesquisa sobre análise do compo [...]