O mundo lê o Brasil pelos quadrinhos


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Jan 30 2025 60 mins   3

Dentre o volume de quadrinhos em publicação no Brasil, a grande maioria é composta por títulos estrangeiros, sejam os mangás japoneses, os super-heróis estadunidenses, quadrinhos europeus ou de outras localidades. Mas isso não significa que a produção de quadrinhos brasileiros seja, necessariamente, pequena. Ou que somente nós, brasileiros, lemos o mundo. O mundo também tem lido cada vez mais o Brasil.


Em 2019 foi lançado o catálogo HQ Brasil, com a ideia de reunir e destacar produções brasileiras da última década. A iniciativa é fruto dos esforços da Bienal de Quadrinhos de Curitiba com o programa Brasil em Quadrinhos, criado em 2019 pelo Ministério das Relações Exteriores. A publicação foi um dos destaques da Semana HQ Brasil, realizada em maio de 2022 em Lima, Peru, como parte do I Festival Nacional de Historietas del Bicentenario. O evento contou com oficinas, palestras e apresentação de portfólios de artistas, além do lançamento de três quadrinhos brasileiros pela editora peruana Contracultura: Carolina (Sirlene Barbosa e João Pinheiro), Morro de Favela (André Diniz) e Lovistori (Lobo e Alcimar Frazão).


A publicação de quadrinhos brasileiros em outros países tem sido crescente. Para citar alguns, temos Bendita Cura (Mário César) na França e Reino Unido; Contos dos Orixás (Hugo Canuto) nos Estados Unidos; Boy Dodói (Bebel Abreu, Carol Ito e Helô D’Ângelo) na Áustria, Alemanha e Suíça; Escuta, Formosa Márcia (Marcelo Quintanilha) nos Estados Unidos; e Cumbe e Angola Janga (Marcelo D’Salete) em países como Portugal, Argentina, França, Polônia e Áustria.


O trabalho de Marcelo D’Salete tem sido um dos principais expoentes da produção brasileira de quadrinhos, tanto no Brasil quanto no mundo. O artista venceu, em 2018, o Prêmio Eisner, troféu norte-americano considerado o “Oscar” dos quadrinhos, com Cumbe. O quadrinho retrata, com delicadeza, histórias cotidianas e afetivas de pessoas negras escravizadas. D’Salete também recebeu o Rudolph Dirks Award em 2019 por Angola Janga, trabalho resultante de 10 anos de pesquisa sobre o quilombo de Palmares e seu líder, Zumbi. Além de D’Salete, os brasileiros Mike Deodato, Fábio Moon, Gabriel Bá e Rafael Grampá também venceram o Eisner.


Diversos quadrinistas brasileiros e editoras vêm participando do Festival de Angoulême, na França, um dos principais eventos de quadrinho no mundo, seja expondo ou entre os selecionados para as premiações do festival. Marcello Quintanilha recebeu, em 2016 e 2022, o principal prêmio do evento, com os quadrinhos Tungstênio e Escuta, Formosa Márcia, respectivamente. Além de quadrinistas, pesquisadores brasileiros também têm participado do evento: este ano, membros da Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial (Aspas), apresentam a mesa-redonda Pesquisa e memória dos quadrinhos: pioneiras e inovações.


Além de roteiros mais tradicionais de eventos e premiações, o quadrinho brasileiro tem chegado a mais lugares. Em 2024, Hugo Canuto, Marília Marz e Gidalti Moura participaram do Mapa Buku Festi, o Festival do Livro de Maripasoula, na Guiana Francesa. No mesmo ano, Hugo Canuto foi um dos convidados do Luanda Cartoon, em Angola, sendo um dos maiores eventos de quadrinhos do continente africano. Anderson Shon e Daniel Cesart também viajaram para Angola para lançar o quadrinho Estados Unidos da África, participando de eventos e palestras sobre o trabalho. Em 2025, Hiro Kawahara ganhou o primeiro lugar no 18° Japan International Manga Award com a HQ A Sereia da Floresta, sendo o primeiro brasileiro a receber o ouro na premiação. Os artistas Yuri Andrey, Marcelo Costa, Ricardo Tayra, Talessak e Cassio Ribeiro também já receberam prata e bronze na premiação. No Silent Manga Audition, competição internacional de mangás sem texto, Max Andrade foi premiado, e Daiandreson Victor e Cayyan Meneze foram finalistas.


O quadrinho brasileiro vem, assim, construindo caminhos curiosos mundo afora. Isso evidencia que a produção de HQs no Brasil é muito mais do que uma empresa, vai além de estereótipos midiáticos e racistas, e que as estéticas são e podem ser muitas. Que não somos só leitores, mas que podemos — e devemos — ser lidos.


*Leonardo Rodrigues é editor de vídeo e jornalista no Brasil de Fato. É mestre em História da Arte pela na Universidade de São Paulo, com pesquisa sobre o protagonismo de quadrinistas negros no Brasil. É membro do Afronerd, produzindo conteúdo sobre quadrinhos e cultura pop japonesa.



**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.


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Roteiro: Daniel Lamir

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Foto: Marcelo D’salete/ Divulgação



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